Existe uma linha tênue entre alguns tipos de sentimentos, o que dificulta descobrir quando um termina e o outro começa. Algumas relações de amor e ódio são tão intensas que o sentimento se mistura, perdendo totalmente a barreira que os separam. embora sejam diferentes, parecem tão iguais, tão completos juntos que já não imagino um sem o outro.
Vivo essa relação todos os dias, com aquela frequência alternada, com muitos altos e baixos. A típica relação que te consome, te suga, te dá prazer, alegria e depois te pisa e te faz de gato e sapato.
Fazem alguns anos que eu vivo assim, não consigo viver longe dessa coisa que no fundo, tanto me maltrata. Mas eu preciso dele, a vida jamais seria a mesma sem a sua presença e o medo do desconhecido, medo da mudança me fazem continuar dia após dia. Sei que não sou a única que mantêm esse tipo de relacionamento em suas vidas, as vezes até mais de um. Vão levando a vida por anos e anos, empurrando o relacionamento por puro comodismo, ou pelo prazer que ele pode proporcionar em alguns poucos momentos.
Conheci poucas pessoas que são verdadeiramente felizes em seu relacionamento, que consegui enxergar o brilho no fundo dos olhos, as atitudes simples, aquela leveza da alma que dá alegria e paz ao presenciar. Infelizmente, não são muitas. Principalmente no meu estado/cidade.
E o ciclo parece interminável, desde de pequenos aprendemos que essa é a receita da galinha dos ovos de ouro. Aprendemos que devemos nos entregar de corpo e alma, que devemos dedicar tempo e energia nesse relacionamento e que, tudo bem se o outro não reconhecer os seus atos, é assim que é e pronto. Nem todos tem o mesmo desempenho, nem todos tem a mesma compaixão. Nos ensinam que não somos fortes o suficiente para quebrar essa barreira para deixar de sofrer, deixar de sobreviver. "Vida que segue, a gente vai sobrevivendo", já me disseram.
Então, todos os dias quando ao abrir os olhos e exergo o mundo a minha frente, vejo pessoas cansadas, pessoas maltratadas, amarguradas, aflitas e com pressa. Muita pressa.
Pressa para que o dia acabe e que tudo acabe, pressa para chegar primeiro, pressa para a vida simplesmente passar. A pressa acaba com a alegria de viver. E essa pressa vem desse sentimento de amor e ódio, desse relacionamento que um sempre dá mais que o outro, um sempre recebe menos que o outro.
Então, todos os dias que acordo sonolenta, já com pressa ao me vestir e pegar o meu crachá da firma, penso: maldito capitalismo, não quero mais você, mas ainda não sei viver sem você.
Apartamento 1201
Onde as idéias surgem, se amam, se odeiam e se misturam.
Wednesday, March 4, 2015
Friday, February 27, 2015
Eu quero ir embora. De novo.
Daqui alguns meses eu comemoro um ano da volta 'pra casa' e sim, eu quero ir embora. De novo.
Logo eu que queria tanto voltar, que queria retomar a vida, os amigos, a rotina. Pura ingenuidade.
Quando eu coloquei meus pés dentro daquele avião, não imaginava que seria uma viagem sem volta. não imaginei que muitos conceitos mudariam com tanta rapidez e veracidade. como se eu realmente tivesse me transformado da água pro vinho.
Quando desembarquei 'no estrangeiro', não imaginava que aquele choque de realidade fosse algo que eu desejaria tanto depois de um tempo. Que eu sentiria saudade daquele tipo de saudade que a gente só sente quando estamos longe do nosso ninho. que eu ia desmoronar e aprender a recomeçar na mesma velocidade. Que eu sentiria que uma casa, um endereço, seria pouco no futuro e que no final, eu não fosse querer ter apenas uma casa.
Eram tantas dúvidas sobre como seriam meus dias longe do conforto, da família, amigos, longe da cultura que me têm como filha, longe da pátria amada. Não sabia ao certo se eu iria um dia voltar. Eu era outra pessoa, que se perdeu na turbulência do avião, que já não existe mais. Todos aqueles medos faleceram quando cruzei a linha de embarque.
As dúvidas continuaram a me assombrar, ainda não sei exatamente o que eu quero fazer da/com a minha vida e não que isso seja um problema. Voltar foi essencial para que eu tivesse resposta e uma grande certeza: eu descobri que o mundo é muito maior fora do ninho.
Foi tão libertador e angustiante, ao mesmo tempo. Eu descobri que a sua alma engrandece e que aquela vida de antes, já não lhe cabe mais. Que existem milhares de ruas esperando meus passos, rostos querendo ser vistos, culturas desejando serem vivenciadas e que não existe nada que pague a sensação de se encontrar quando você está, literalmente, perdido.
A vida começa a ter outro sentido depois de um tempo de ausência, ausência do ninho. Eu aprendi que a felicidade pode estar sim em um restaurante sujo, porque você só pode pagar $1 em um hamburguer e descobrir que você pode ensinar a sua cultura e aprender outra em troca. Por mais que eu tente achar sentido, glamourizar certas coisas que são tão comuns por aqui, no fundo eu sei que aprendi que a vida pode ser diferente.
Eu posso mudar o cabelo a hora que eu quiser. Eu posso mudar de emprego, falar outra língua, andar em outras ruas. Eu posso mudar de opinião, mudar meu ponto de vista a qualquer hora e isso me faz ser cada dia melhor, para mim e para os outros. Então porque seria diferente querer mudar de país?
Aquele avião me ensinou muito mais coisas do que qualquer pessoa pudesse me ensinar. me mostrou caminhos que eu jamais caminharia se não tivesse, ao menos uma vez, me entregado ao desconhecido, me ausentado da rotina e praticidade de conhecer tudo ao meu redor.
Sim, eu quero ir embora pro mundo. Pra encontrar, em cada pedaço do mundo, um pedaço pra chamar de meu.
Logo eu que queria tanto voltar, que queria retomar a vida, os amigos, a rotina. Pura ingenuidade.
Quando eu coloquei meus pés dentro daquele avião, não imaginava que seria uma viagem sem volta. não imaginei que muitos conceitos mudariam com tanta rapidez e veracidade. como se eu realmente tivesse me transformado da água pro vinho.
Quando desembarquei 'no estrangeiro', não imaginava que aquele choque de realidade fosse algo que eu desejaria tanto depois de um tempo. Que eu sentiria saudade daquele tipo de saudade que a gente só sente quando estamos longe do nosso ninho. que eu ia desmoronar e aprender a recomeçar na mesma velocidade. Que eu sentiria que uma casa, um endereço, seria pouco no futuro e que no final, eu não fosse querer ter apenas uma casa.
Eram tantas dúvidas sobre como seriam meus dias longe do conforto, da família, amigos, longe da cultura que me têm como filha, longe da pátria amada. Não sabia ao certo se eu iria um dia voltar. Eu era outra pessoa, que se perdeu na turbulência do avião, que já não existe mais. Todos aqueles medos faleceram quando cruzei a linha de embarque.
As dúvidas continuaram a me assombrar, ainda não sei exatamente o que eu quero fazer da/com a minha vida e não que isso seja um problema. Voltar foi essencial para que eu tivesse resposta e uma grande certeza: eu descobri que o mundo é muito maior fora do ninho.
Foi tão libertador e angustiante, ao mesmo tempo. Eu descobri que a sua alma engrandece e que aquela vida de antes, já não lhe cabe mais. Que existem milhares de ruas esperando meus passos, rostos querendo ser vistos, culturas desejando serem vivenciadas e que não existe nada que pague a sensação de se encontrar quando você está, literalmente, perdido.
A vida começa a ter outro sentido depois de um tempo de ausência, ausência do ninho. Eu aprendi que a felicidade pode estar sim em um restaurante sujo, porque você só pode pagar $1 em um hamburguer e descobrir que você pode ensinar a sua cultura e aprender outra em troca. Por mais que eu tente achar sentido, glamourizar certas coisas que são tão comuns por aqui, no fundo eu sei que aprendi que a vida pode ser diferente.
Eu posso mudar o cabelo a hora que eu quiser. Eu posso mudar de emprego, falar outra língua, andar em outras ruas. Eu posso mudar de opinião, mudar meu ponto de vista a qualquer hora e isso me faz ser cada dia melhor, para mim e para os outros. Então porque seria diferente querer mudar de país?
Aquele avião me ensinou muito mais coisas do que qualquer pessoa pudesse me ensinar. me mostrou caminhos que eu jamais caminharia se não tivesse, ao menos uma vez, me entregado ao desconhecido, me ausentado da rotina e praticidade de conhecer tudo ao meu redor.
Sim, eu quero ir embora pro mundo. Pra encontrar, em cada pedaço do mundo, um pedaço pra chamar de meu.
Wednesday, November 12, 2014
Cabelo curto não pode?
Minha mãe sempre teve cabelão, chegou a passar da bunda. E cabelo "bom", escorrido e fino. Mas depois que o cabelo prendeu em alguma porta, ela decidiu cortar, mas não muito curto. Daí ela envelheceu e não queria ficar com "cabelo de crente", porque velha com cabelo comprido só pode ser evangélica, se não, tem que ter cabelo curto pois não combina com a idade.
Meu cabelo, por consequência, sempre foi comprido. E muito. No prézinho, tenho uma foto com uma cabeleira de dar inveja as menininhas de 5 anos de idade. Preto, liso, fino e comprido. De tanto colarem chiclé e pegar piolho, mamãe passou a tesoura, mas não muito curto, de qualquer jeito.
Sempre que dava, me ajudava a me lembrar que graças a Deus não puxei o black power do meu pai "porque ali não passa nem água" e ele sempre de cabelo raspado, nunca vi o famoso black power a não ser em fotos. E pra ajudar mostrava as fotos das minhas primas com o cabelo raspado, porque é ruim demais e não dá pra cuidar, então hoje elas tem pavor a cabelo curto, trauma de infância. Eu cresci achando que cabelo crespo era ruim, embora sempre achasse muito lindo.
Até que um dia me revoltei com a sociedade. Me via gastando rios de dinheiro para tirar os lindos cachos que herdei do meu pai e descolorindo (e destruindo, literalmente) o meu cabelo todos os meses. Já não aguentava mais gastar tempo e dinheiro para manter aquele padrão liso-e-loiro. Fui no salão como num impulso e o dono chegou a falar que não ia deixar eu cortar o cabelo. Por sorte, encontrei o melhor cabeleireiro do mundo que viu que eu realmente queria fazer aquilo. Cortar as madeixas era o que eu mais queria.
E aquela frase "menos é mais" nunca fez tanto sentido na minha vida: menos cabelo pra mim significou menos tempo gasto, menos dinheiro, menos auto-cobrança. Só que muito mais rótulos, cobranças externas e autoconfiança. Todos me diziam que eu era louca, que tinha "acabado com o meu cabelozzZZZzz" ou me perguntavam se eu tinha virado lésbica. E a resposta, sempre foi a mesma: mas gente, cabelo cresce!
Quando fiquei 1 ano fora do país não quis gastar meu dinheiro suado com cabelo e ele cresceu. Uma das minhas primas, quando voltei e ela viu meu cabelo comprido, pegou eles pela raíz com força e disse que se eu cortasse de novo ela me matava.
Então enjoei de novo e resolvi cortar, para desespero da minha mãe e de algumas amigas. Uma colega do trabalho quase chorou quando viu. E a enxurrada de comentários questionando a minha sanidade mental e sexualidade voltaram. Fora a máxima: e o seu marido deixou?, o que me faz querer vomitar meus órgãos quando ouço.
Só um lembrete para as pessoas que acham que o (in)consciente coletivo fala mais alto do que o meu gosto: PAREM!
Não é o meu cabelo que define a minha sexualidade, não me deixa menos ou mais feminina ou mulher. Meu cabelo não é propriedade do meu companheiro, assim como meu corpo, minhas roupas, minhas decisões e opiniões também não pertencem a ele.
Eu "acabava" com o meu cabelo quando eu gastava tanto com químicas para mantê-lo de uma forma da qual não era exatamente o que eu queria, mas o que eu achava que queria.
Meu cabelo é uma extensão da minha personalidade: não tenho medo de mudar de corte, cor e muito menos de opinião, quando eu achar conveniente.
Expressar opinião é diferente do que ridicularizar uma escolha. Expressar opinião é diferente do que julgar pela aparência. Expressar opinião é diferente do que tentar impor a própria opinião.
Só parem de dizer que existem idades para cada tipo de cabelo, que a pessoa tem que ter um biotipo específico para usar algum corte ou penteado para "ficar bom". O cabelo é meu e eu faço o que quiser com ele, obrigada!
Sempre que dava, me ajudava a me lembrar que graças a Deus não puxei o black power do meu pai "porque ali não passa nem água" e ele sempre de cabelo raspado, nunca vi o famoso black power a não ser em fotos. E pra ajudar mostrava as fotos das minhas primas com o cabelo raspado, porque é ruim demais e não dá pra cuidar, então hoje elas tem pavor a cabelo curto, trauma de infância. Eu cresci achando que cabelo crespo era ruim, embora sempre achasse muito lindo.
Até que um dia me revoltei com a sociedade. Me via gastando rios de dinheiro para tirar os lindos cachos que herdei do meu pai e descolorindo (e destruindo, literalmente) o meu cabelo todos os meses. Já não aguentava mais gastar tempo e dinheiro para manter aquele padrão liso-e-loiro. Fui no salão como num impulso e o dono chegou a falar que não ia deixar eu cortar o cabelo. Por sorte, encontrei o melhor cabeleireiro do mundo que viu que eu realmente queria fazer aquilo. Cortar as madeixas era o que eu mais queria.
E aquela frase "menos é mais" nunca fez tanto sentido na minha vida: menos cabelo pra mim significou menos tempo gasto, menos dinheiro, menos auto-cobrança. Só que muito mais rótulos, cobranças externas e autoconfiança. Todos me diziam que eu era louca, que tinha "acabado com o meu cabelozzZZZzz" ou me perguntavam se eu tinha virado lésbica. E a resposta, sempre foi a mesma: mas gente, cabelo cresce!
Quando fiquei 1 ano fora do país não quis gastar meu dinheiro suado com cabelo e ele cresceu. Uma das minhas primas, quando voltei e ela viu meu cabelo comprido, pegou eles pela raíz com força e disse que se eu cortasse de novo ela me matava.
Então enjoei de novo e resolvi cortar, para desespero da minha mãe e de algumas amigas. Uma colega do trabalho quase chorou quando viu. E a enxurrada de comentários questionando a minha sanidade mental e sexualidade voltaram. Fora a máxima: e o seu marido deixou?, o que me faz querer vomitar meus órgãos quando ouço.
Só um lembrete para as pessoas que acham que o (in)consciente coletivo fala mais alto do que o meu gosto: PAREM!
Não é o meu cabelo que define a minha sexualidade, não me deixa menos ou mais feminina ou mulher. Meu cabelo não é propriedade do meu companheiro, assim como meu corpo, minhas roupas, minhas decisões e opiniões também não pertencem a ele.
Eu "acabava" com o meu cabelo quando eu gastava tanto com químicas para mantê-lo de uma forma da qual não era exatamente o que eu queria, mas o que eu achava que queria.
Meu cabelo é uma extensão da minha personalidade: não tenho medo de mudar de corte, cor e muito menos de opinião, quando eu achar conveniente.
Expressar opinião é diferente do que ridicularizar uma escolha. Expressar opinião é diferente do que julgar pela aparência. Expressar opinião é diferente do que tentar impor a própria opinião.
Só parem de dizer que existem idades para cada tipo de cabelo, que a pessoa tem que ter um biotipo específico para usar algum corte ou penteado para "ficar bom". O cabelo é meu e eu faço o que quiser com ele, obrigada!
Friday, October 3, 2014
Quando os extremos se atraem
Eu acho meio difícil falar da caminhada de alguém quando a gente não calça os mesmos sapatos. Mas nem por isso não podemos nos identificar na mesma luta. A luta das mulheres engloba também a luta dos direitos LGBT, uma vez que pedimos a real liberdade e não uma liberdade imposta. Ai quantos posts eu ainda tenho que escrever! hahaha
A última super discutida é a do discurso do Levy Fidelix no debate na rede Record, quando a candidata Luciana Genro perguntou sobre o casamento igualitário e direitos LGBT. Acho que você já viu esse vídeo, mas tá ai de novo pra gente analisar.
Muita gente considerou o discurso do Levy de discurso de ódio, eu não achei tão pesado assim. Concordo que, as pessoas podem interpretar de muitas formas. Ainda acho difícil ver, em pleno século XXI ainda tem gente tão preocupada com o que você faz com o seu corpo, com quem você quer amar e se relacionar, sim, é difícil ver as pessoas cagando regras o tempo todo pra gente. E as vezes eu vejo isso tanto no feminismo quanto em outras lutas: pessoas cagando regras, acabando com o movimento.
"Ai pra ser isso tem que ser aquilo", "ai pra ser isso tem que fazer aquilo". Não gente, pára que tá feio. Isso não é uma guerra, como tem gente querendo parecer pra acabar com isso tudo.
A liberdade que tanto queremos começa em respeitar a opinião dos outros. Não me parece muito coerente querer obrigar o outro a aceitar alguma coisa, comprar a sua ideia. A única coisa que devemos mesmo fazer é respeitar e cobrar respeito. Respeitar o casal gay se amar, respeitar o trans, respeitar a negra, respeitar a minha ideia, respeitar a sua ideia, respeitar o meu espaço e o seu espaço, o meu tempo e o seu tempo.
Por isso que acho que o discurso do Levy não foi de ódio, acho sim, que foi falta de respeito tal fala, mas de qualquer forma, é desrespeitoso atacá-lo por sua opinião. Principalmente quando você luta contra o ataque por aquilo que você faz e acredita. Ninguém é obrigado a aceitar o feminismo, muito embora eu que isso é algo muito importante, não posso ir lá e humilhar a pessoa por não acreditar nisso. Perco todo o meu discurso de liberdade, perco todo o argumento pra discussão.
Não podemos sair ai obrigando as pessoas a fazer aquilo que nós queremos, do mesmo jeito que não achamos certo que eles façam isso com a gente. Eu não acho legal um casal hétero na maior pegação no meio da rua, também não vou achar legal ver um casal homo assim e nem por isso ou homofóbica. Mas andar de mãos dadas, com o sorriso largo no rosto e o carinho nos olhos é lindo de ver, e pra mim não importa quem esteja fazendo isso. Pra mim também é feio ver a galera ~fazendo sexo~ nas ruas, nas baladas, independente do casal.
Como eu disse, é difícil pra mim dizer como é ser olhada com indignação por ser gay, mulher e negra. Podem falar que pra mim é fácil 'defender' o Levy por ser 'branca-classe média-hetero', já prevejo isso. Mas não, esse não é o objetivo.
Extremismo é perigoso. Em qualquer luta, qualquer pensamento, qualquer ação. Ele tapa os olhos, os sentidos, o conhecimento. Assim como brigo com meu pai por ser TJ e achar que têm a verdade absoluta referente a Deus, brigo com qualquer pessoa que venha me dizer que como eu tenho que posicionar, agir e pensar como se o modo dela fosse a única verdade do mundo. Não amigo, não é. E querendo ser diferente deles, o extremismo só os aproxima.
Levy, o casal de verdade não é somente homem e mulher. Pode ser pra você, não pra mim, não me mande acreditar nisso, não tire o meu direito de ter opinião assim como não quero tirar o seu. Se você acredita nisso, é a sua escolha e te respeito por isso, mas respeite também aqueles que não compartilham da mesma opinião.
Amigos LGBT, o casal de verdade é aquele que se ama, concordo com vocês, lutem pelos seus direitos, que eles sejam SIM direitos por lei, que aquele cara que bate em alguém por ser gay seja preso por isso, mas não tentem enfiar guela abaixo de todos que eles são obrigados a te aceitarem. Lute pelo respeito, não por aceitação.
E eu acho que é isso que falta sabe? Lutar por respeito. A aceitação tem que vir da gente mesmo, uma vez que a gente se aceita, pra que cobrar isso do outro? Você tem que saber quem você é, o que é melhor pra você, não a outra pessoa. Ninguém tem que te aceitar, a não ser você mesmx. Agora, se a pessoa não te respeitar, aí sim, livre-se dessa pessoa, mas isso não quer dizer pra você matar ela, mas sim corra pra bem longe dela.
Eu não luto para que me aceitem por ser mulher. Eu luto para que me respeitem por isso. Para que respeitem a decisão que qualquer pessoa tomar na vida, para que cada um cuide da sua.
A última super discutida é a do discurso do Levy Fidelix no debate na rede Record, quando a candidata Luciana Genro perguntou sobre o casamento igualitário e direitos LGBT. Acho que você já viu esse vídeo, mas tá ai de novo pra gente analisar.
Muita gente considerou o discurso do Levy de discurso de ódio, eu não achei tão pesado assim. Concordo que, as pessoas podem interpretar de muitas formas. Ainda acho difícil ver, em pleno século XXI ainda tem gente tão preocupada com o que você faz com o seu corpo, com quem você quer amar e se relacionar, sim, é difícil ver as pessoas cagando regras o tempo todo pra gente. E as vezes eu vejo isso tanto no feminismo quanto em outras lutas: pessoas cagando regras, acabando com o movimento.
"Ai pra ser isso tem que ser aquilo", "ai pra ser isso tem que fazer aquilo". Não gente, pára que tá feio. Isso não é uma guerra, como tem gente querendo parecer pra acabar com isso tudo.
A liberdade que tanto queremos começa em respeitar a opinião dos outros. Não me parece muito coerente querer obrigar o outro a aceitar alguma coisa, comprar a sua ideia. A única coisa que devemos mesmo fazer é respeitar e cobrar respeito. Respeitar o casal gay se amar, respeitar o trans, respeitar a negra, respeitar a minha ideia, respeitar a sua ideia, respeitar o meu espaço e o seu espaço, o meu tempo e o seu tempo.
Por isso que acho que o discurso do Levy não foi de ódio, acho sim, que foi falta de respeito tal fala, mas de qualquer forma, é desrespeitoso atacá-lo por sua opinião. Principalmente quando você luta contra o ataque por aquilo que você faz e acredita. Ninguém é obrigado a aceitar o feminismo, muito embora eu que isso é algo muito importante, não posso ir lá e humilhar a pessoa por não acreditar nisso. Perco todo o meu discurso de liberdade, perco todo o argumento pra discussão.
Não podemos sair ai obrigando as pessoas a fazer aquilo que nós queremos, do mesmo jeito que não achamos certo que eles façam isso com a gente. Eu não acho legal um casal hétero na maior pegação no meio da rua, também não vou achar legal ver um casal homo assim e nem por isso ou homofóbica. Mas andar de mãos dadas, com o sorriso largo no rosto e o carinho nos olhos é lindo de ver, e pra mim não importa quem esteja fazendo isso. Pra mim também é feio ver a galera ~fazendo sexo~ nas ruas, nas baladas, independente do casal.
Como eu disse, é difícil pra mim dizer como é ser olhada com indignação por ser gay, mulher e negra. Podem falar que pra mim é fácil 'defender' o Levy por ser 'branca-classe média-hetero', já prevejo isso. Mas não, esse não é o objetivo.
Extremismo é perigoso. Em qualquer luta, qualquer pensamento, qualquer ação. Ele tapa os olhos, os sentidos, o conhecimento. Assim como brigo com meu pai por ser TJ e achar que têm a verdade absoluta referente a Deus, brigo com qualquer pessoa que venha me dizer que como eu tenho que posicionar, agir e pensar como se o modo dela fosse a única verdade do mundo. Não amigo, não é. E querendo ser diferente deles, o extremismo só os aproxima.
Levy, o casal de verdade não é somente homem e mulher. Pode ser pra você, não pra mim, não me mande acreditar nisso, não tire o meu direito de ter opinião assim como não quero tirar o seu. Se você acredita nisso, é a sua escolha e te respeito por isso, mas respeite também aqueles que não compartilham da mesma opinião.
Amigos LGBT, o casal de verdade é aquele que se ama, concordo com vocês, lutem pelos seus direitos, que eles sejam SIM direitos por lei, que aquele cara que bate em alguém por ser gay seja preso por isso, mas não tentem enfiar guela abaixo de todos que eles são obrigados a te aceitarem. Lute pelo respeito, não por aceitação.
E eu acho que é isso que falta sabe? Lutar por respeito. A aceitação tem que vir da gente mesmo, uma vez que a gente se aceita, pra que cobrar isso do outro? Você tem que saber quem você é, o que é melhor pra você, não a outra pessoa. Ninguém tem que te aceitar, a não ser você mesmx. Agora, se a pessoa não te respeitar, aí sim, livre-se dessa pessoa, mas isso não quer dizer pra você matar ela, mas sim corra pra bem longe dela.
Eu não luto para que me aceitem por ser mulher. Eu luto para que me respeitem por isso. Para que respeitem a decisão que qualquer pessoa tomar na vida, para que cada um cuide da sua.
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fica a dica! :) |
UPDATE: quando eu reli o texto, percebi que estava cagando regras também, complicado. Mas tá aí uma opinião. Não quero te obrigar a fazer o que falei, mas manter coerência com o discurso e a ação, pra mim, é essencial. :)
Tuesday, September 23, 2014
a mulher e os relacinamentos #1 distância
Quando eu decidi fazer meu intercâmbio, pela primeira vez, meu namorado da época disse com firmeza que não me esperaria, onde já se viu namorar a distância? Não fazia sentido nenhum na cabeça dele perder a oportunidade de transar sempre que queria e ainda assim continuar num compromisso de relacionamento. Sim, eu acredito que era mesmo essa ideia dele, mas o porque disso, deixo para outro post. E então, para não perder o namorado, desisti da idea naquele momento.
E não foi diferente com o um outro namoradinho que arrumei na época que havia decidido finalmente colocar um carimbo no meu passaporte. No começo, dizia que me esperaria sim, mas quando viu a veracidade e a realidade chegando mais perto a cada dia, desistiu também. E eu, sofri muito com essas duas situações.
Os planos do intercâmbio iam de vento em popa, quando meu atual namorado, apareceu na minha vida me chamando para um 'date' (encontro, em inglês). Nós já éramos amigos antes e o fato dele querer se aproximar a mim num aspecto "romântico" causou certos desentendimentos com algumas pessoas, e além de outras 'desculpas', a máxima era que eu ia embora do país por um determinado tempo. "Quem começa um relacionamento com uma pessoa sendo que ela vai embora do país?"
As pessoas achavam quase um absurdo começar a namorar sabendo que eu ia para fora do país. Daí a minha indignação vai além do fato de muito machismo estar presente nessas situações, mas como que perdemos a capacidade de confiar e ser confiável ao ponto de não podermos deixar o nosso parceiro longe, pois boa coisa não irá acontecer? Sério que chegamos nesse ponto? Nave-mãe, por favor, venha me buscar.
Claro que, muitas dessas frases que ouvi era, "ah, mas você acha mesmo que ele vai conseguir te esperar?" e eu sabia muito bem o que essa frase queria dizer, era praticamente uma afirmação de que nenhum homem na terra é capaz de ficar um longo tempo sem ter relações sexuais. Mesmo quando respondia que ele deveria saber guardar o que ele tem no meio das pernas ouvia, "ah, mas é homem né?" só para confirmar aquilo que eu já tinha certeza.
O que me deixa boquiaberta é que é esperado que a mulher espere por seu homem quando ele vai se ausentar, ou precisa viajar por qualquer motivo que for, e, caso ela não faça isso, sua 'reputação' vai abaixo e tudo sua culpa. Porém quando invertemos essa posição, ninguém espera que o homem realmente cumpra com a sua parte do compromisso e também se mantenha longe de qualquer relação com outras mulheres (ou homens), e caso isso aconteça, a culpa também é da mulher que saiu de sua posição de esposa para 'ir cuidar de sua vida' e não está ali para satisfazer o homem.
E agora quando falo que eu quero mudar de país de novo são duas perguntas em sequência: "e o seu namorado? ele deixa?" "mas vocês estão bem?". As pessoas tendem a achar que quando estamos num relacionamento, somos propriedade da outra pessoa e vice-versa, mas viver num relacionamento desses, pra mim, é doentio. Claro que, se realmente você aprecia a outra pessoa e leva a opinião dela em consideração, decisões desse tipo devem ser feitas em conjunto, não é como pedir permissão da mãe para ir numa festa quando você ainda é uma criança, mas isso também é outra história.
Ainda não consigo entender como somente uma pessoa, no caso, a mulher, é considerada culpada por todos os problemas que um casal possa ter. Você já se sentiu culpada por seu companheiro ter te traído? Você acha mesmo que é sua responsabilidade a atitude do outro? Caso o casal não tenha decido pelo poliamor, você acha que deve ser responsabilizada por uma traição do seu parceiro por você não estar presente fisicamente na vida dele a todo momento?
Dizem por aí que lugar de mulher é ao lado do homem, eu já acho que lugar de mulher é onde ela quiser estar.
um beijo e um queijo! ;)
E não foi diferente com o um outro namoradinho que arrumei na época que havia decidido finalmente colocar um carimbo no meu passaporte. No começo, dizia que me esperaria sim, mas quando viu a veracidade e a realidade chegando mais perto a cada dia, desistiu também. E eu, sofri muito com essas duas situações.
Os planos do intercâmbio iam de vento em popa, quando meu atual namorado, apareceu na minha vida me chamando para um 'date' (encontro, em inglês). Nós já éramos amigos antes e o fato dele querer se aproximar a mim num aspecto "romântico" causou certos desentendimentos com algumas pessoas, e além de outras 'desculpas', a máxima era que eu ia embora do país por um determinado tempo. "Quem começa um relacionamento com uma pessoa sendo que ela vai embora do país?"
As pessoas achavam quase um absurdo começar a namorar sabendo que eu ia para fora do país. Daí a minha indignação vai além do fato de muito machismo estar presente nessas situações, mas como que perdemos a capacidade de confiar e ser confiável ao ponto de não podermos deixar o nosso parceiro longe, pois boa coisa não irá acontecer? Sério que chegamos nesse ponto? Nave-mãe, por favor, venha me buscar.
Claro que, muitas dessas frases que ouvi era, "ah, mas você acha mesmo que ele vai conseguir te esperar?" e eu sabia muito bem o que essa frase queria dizer, era praticamente uma afirmação de que nenhum homem na terra é capaz de ficar um longo tempo sem ter relações sexuais. Mesmo quando respondia que ele deveria saber guardar o que ele tem no meio das pernas ouvia, "ah, mas é homem né?" só para confirmar aquilo que eu já tinha certeza.
O que me deixa boquiaberta é que é esperado que a mulher espere por seu homem quando ele vai se ausentar, ou precisa viajar por qualquer motivo que for, e, caso ela não faça isso, sua 'reputação' vai abaixo e tudo sua culpa. Porém quando invertemos essa posição, ninguém espera que o homem realmente cumpra com a sua parte do compromisso e também se mantenha longe de qualquer relação com outras mulheres (ou homens), e caso isso aconteça, a culpa também é da mulher que saiu de sua posição de esposa para 'ir cuidar de sua vida' e não está ali para satisfazer o homem.
E agora quando falo que eu quero mudar de país de novo são duas perguntas em sequência: "e o seu namorado? ele deixa?" "mas vocês estão bem?". As pessoas tendem a achar que quando estamos num relacionamento, somos propriedade da outra pessoa e vice-versa, mas viver num relacionamento desses, pra mim, é doentio. Claro que, se realmente você aprecia a outra pessoa e leva a opinião dela em consideração, decisões desse tipo devem ser feitas em conjunto, não é como pedir permissão da mãe para ir numa festa quando você ainda é uma criança, mas isso também é outra história.
Ainda não consigo entender como somente uma pessoa, no caso, a mulher, é considerada culpada por todos os problemas que um casal possa ter. Você já se sentiu culpada por seu companheiro ter te traído? Você acha mesmo que é sua responsabilidade a atitude do outro? Caso o casal não tenha decido pelo poliamor, você acha que deve ser responsabilizada por uma traição do seu parceiro por você não estar presente fisicamente na vida dele a todo momento?
Dizem por aí que lugar de mulher é ao lado do homem, eu já acho que lugar de mulher é onde ela quiser estar.
um beijo e um queijo! ;)
Saturday, September 20, 2014
Beyoncé e o feminismo: a nova treta
Eu sou uma fã assumida da Beyoncé, bem antes de descobrir o real significado de certas músicas dela e acho que ela é uma grande influência na minha vida como artista e como pessoa. Há muito tempo ela mostra ao mundo como ela não se curva a certas 'regras'.
Antes mesmo de eu descobrir o que era feminismo, já era louca pelas letras de "Independent Woman" e "Bootylicious" que exaltam a independência financeira e a beleza natural da mulher. Mesmo que eu não ache que ela é um ícone máximo do feminismo, tenho que concordar que ela vem trazendo o tema para o mundo de uma forma que nenhum outro artista o fez. Provavelmente você não deve ter ouvido falar de Chimamanda Ngozi Adichie antes de ouvir parte de seu discurso sampleado em ***Flawless, bem, eu não tinha idéia de quem era essa mulher. Quando ouvi o pequeno pedaço de seu discurso, meu cérebro deu três voltas e não sosseguei enquanto não procurei quase tudo sobre essa mulher.
Li bastante sobre isso antes de vir escrever por aqui, principalmente depois da sua apresentação do VMA, o que mais temos por aí são publicações sobre o feminismo e o não feminismo da Beyoncé. Li críticas sem senso nenhum a críticas que concordo e já compartilhava da mesma opinião, mas me dizer que ela não representa o feminismo, soa ingênuo.
O feminismo é um movimento para a liberdade, pela liberdade de sermos quem somos, de sermos imperfeitas, e daí acabar com mais um estereotipo de "esse feminismo é certo e esse é errado" faz com que tudo o que reivindicamos vá direto para o ralo.
Lembra quando eu falei ali sobre Bootylicious? Ela faz parte do álbum Survivor do grupo Destiny's Child, mesmo album que têm a música "Nasty Girl" que é um hino machista cantado pela minha musa. Até aí, nessa época, eu também achava que as meninas que se vestiam com roupas curtas eram vadias, e minha opinião mudou (e muito!) sobre isso e outras questões. A mesma coisa acontece com as duas músicas Independent Woman pt 1 e pt 2, sendo "Bills, Bills, Bills" um dos maiores sucessos do grupo. Soa meio incoerente? Sim, mas atire a primeira pedra quem é a rainha da coerência.
Tem gente que diz que sua hiper sensualidade é um defeito, que ela usa o corpo para vender, para se sentir melhor e desejada pelos homens e mulheres. Bem, eu discordo. Eu vejo uma mulher que não usa a sua sensualidade, mas que a sente, a explora e a expõe. Qual o problema de me sentir gostosa e querer mostrar isso pra todo mundo? Se existe um problema, é o mesmo que eu ter a minha opinião e estar expondo-a aqui no blog. O problema que eu enxergo é essa coisa que querem que a gente acredite que não podemos usar nosso corpo para nos satisfazer, indo por esta linha de pensamento, 'meu corpo, minhas regras' cai mais rápido que castelo de areia.
Falando de seu mais recente álbum auto intitulado, Blow é literalmente uma explosão de como ela lida com sua sensualidade, como ela sabe explorá-la e não se sentindo reprimida por isso. Como falar de sua apresentação e então associá-la a objeto sexual? Ela celebra o corpo e a beleza que têm, rebolando e exaltando a sua bunda nas nossas caras desde 2001. Ela se mostra como um ser sexual e isso incomoda as pessoas, não é bem aquilo que esperam de uma mulher. Como Chimamanda diz "mulheres são seres sexuais e sendo donas de seu corpo e seus desejos, não são objetos, são sujeitos". Dizer que o feminismo de Beyoncé é menor do que o da Valesca Popozuda, por exemplo, é a tentativa de padronizar algo que repudia padrões.
Tanta afirmação não é a toa, ela não nasceu loira e rica, mas sim negra e de classe média. Isso não quer dizer que a vida dela hoje ainda seja difícil, mas não foi sempre assim. Além de enfrentar muito preconceito por ser mulher e querer ser artista (sim, isso ainda existe até hoje), ela é negra e sim, ainda existe muito preconceito racial, mesmo que preferimos não aceitar o problema. E não me venha argumentando que isso é narcisismo, por simplesmente não cola. Experimente dizer isso para uma garota negra que todos os dias reafirma sua beleza num mundo onde as mulheres consideradas mais bonitas e sexys são brancas, loiras e magérrimas.
Também vi por aí falando sobre o fato dela ter usado o sobrenome do marido na sua ultima turnê solo. Até onde eu li e sei, não sou proibida de casar, ser feliz e me orgulhar da pessoa que tenho ao meu lado, por que tenho que me repreender e não dar valor a pessoa que está ao meu lado, pelo simples fato de ser um homem? Isso me faz menos feminista, menos mulher? Eu acho que não.
A partir do momento que eu sou obrigada a recusar minhas próprias vontades e impor um orgulho besta contra os homens, novamente não estou sendo livre, estou seguindo (mais) um padrão imposto por alguém.
O trecho em que Jay Z aparece em "Drunk in love" é cheio de contradições feministas. Como então considerá-la um ícone sendo que em uma música sua, ela deixa seu marido dizer que "vai enfiar um bolo em sua cara para que você coma" (alusão a situação de agressão sofrida por Tina Turner pelo seu então marido e empresário e ter a obrigado a comer um bolo). Beyoncé e Jay Z não são só parceiros, eles são artistas, então cada um explora certos temas, e o fato de cada um respeitar o trabalho do outro é uma bela demonstração de respeito, embora as pessoas não saibam exatamente como respeito realmente funciona.
Pra mim, fica um pouco complicado escrever este post, pois ao me assumir fã dela, as pessoas podem achar que isso tudo é apenas uma fã defendendo seu ídolo, pode ser que eu seja mais agressiva em algumas defesas, mas não fecho os olhos para os 'gaps' que vejo em seu caminho, mas todos nós temos nossas imperfeições e é exatamente isso que nos faz perfeitos.
um beijo e um queijo! ;)
Friday, September 5, 2014
a menina que não sabia usar saias.
Quando eu era criança, minha mãe sempre me fazia vestidos coloridos sempre fui cheia de bonecas e um dia descobri a paixão por Barbies. Meu cabelo sempre longo, na altura da cintura quando eu esquecia de reclamar de seu tamanho.
Fui ensinada, como a minha irmã, a fazer a cama, lavar a louça e ter de me portar como uma menina, portanto, a parte dos vestidos sempre foi meio complicada, mais um motivo para não poder ficar sozinha com meninos e também não podia aparecer sem roupa ou de biquini perto do meu próprio pai.
Sabe, eu nunca entendi isso tudo muito bem. Eu via que era cercada de regras a modo de me diferenciar dos meninos, por mais que eu gostasse de Barbies, também gostava dos carrinhos. Também nunca me ensinaram nada sobre sexo, ou sobre "virar mocinha", mas eu não culpo minha mãe, a vida dela não era sido nada fácil quando tinha a minha idade e provavelmente ela não deve ter tido tal conversa com minha avó.
Na escola eu era um alvo fácil de zoação, hoje chamado de bullying. Magrela, com cabelos encaracolados e óculos fundo de garrafa. E eu tinha um misto de sentimentos: queria ser a garota bonita e popular que todos gostavam e ao mesmo tempo queria ser eu. Por mais que eu me achasse bonita e atraente, não era o tipo de garota que atraia olhares, era desengonçada e não via diferença entre mim e o coleguinha masculino.
Como que por osmose, com a galera da escola, aprendi que as meninas não deviam ficar com vários meninos, mas ao mesmo tempo era pressionada por ser BV (boca virgem), coisa que eu negava veemente.
Eu gostava de jogar bola, atitude que não era tão bem vista aos olhos do meu pai. E nem aos olhos dos meninos da rua. Rua que, eu só pude sair, aos 15 anos quando mudamos de cidade. São Paulo sempre foi muito violenta para uma menina. Para a loucura da minha mãe e pai, preferia estar com os meninos por não me dar muito bem com meninas.
Com o tempo, os relacionamentos surgiram, mas nunca me senti como propriedade de alguém. Mesmo com parceiros machistas, sempre me mantive na mesma posição. Passei por milhares de brigas por causa da minha roupa, por querer sair sozinha, por dançar demais, por falar demais, por não me sentir diminuída e submissa por ser mulher.
Quando quis entrar para a faculdade, fui questionada por não escolher secretariado, já que ser secretária seria uma excelente profissão a seguir, você sabe, mulheres são ótimas nessa posição.
Fui julgada por outras mulheres com todos aqueles subjetivos que estamos cansadas de ver por ai, já disseram que sou fácil, que sou apenas para diversão, que não deveriam perder tempo comigo. Já vi, algumas vezes, outras mulheres disputarem, me ofenderem e brigarem comigo por causa de homens, pela sua atenção e pela posição de estar ao lado deles.
Não nego que também já tive meus momentos de xingar e até mesmo "difamar" outras meninas pelo mesmo motivo, não me envergonho, eu não sabia o que eu estava fazendo, assim como não culpo aquelas que ainda são cegas pela falsa guerra feminina pelo sexo masculino.
Então, há pouco tempo atrás, me descobri como feminista e toda essa história só me fez ver o quanto nosso meio é influenciado pelo patriarcado. Acredito que essa história seja semelhante para algumas meninas de classe média brasileira da minha geração. Porém dificilmente no mundo outras meninas têm ou tiveram a oportunidade que eu tive em diferentes situações. E ainda me perguntam porque existe e porque sou feminista. Na minha própria família já fui alvo de deboche por conta da minha posição, e infelizmente, o deboche com mais ênfase veio de mulheres.
Me dói ver todos os dias, como essa imposição de submissão afeta tantas mulheres e homens, mas ainda parece uma cortina invisível, como se ninguém quisesse enxergar realmente a causa de tantos problemas.
Por isso decidi usar esse espaço para palavrear a minha luta diária, compartilhada com tantas outras meninas e meninos, mulheres e homens, seres humanos que entendem a importância de serem livres e iguais.
Se você chegou até aqui, meu muito obrigada e espero você durante a minha jornada!
um beijo e um queijo!
PS: Esclareço que este blog não será utilizado para falar apenas de feminismo, mas de vários assuntos que façam parte do meu dia a dia e que, de alguma forma, sejam, para mim, importantes o suficiente para aparecerem por aqui, sempre com alguma pitada de humor! :)
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