Eu sou uma fã assumida da Beyoncé, bem antes de descobrir o real significado de certas músicas dela e acho que ela é uma grande influência na minha vida como artista e como pessoa. Há muito tempo ela mostra ao mundo como ela não se curva a certas 'regras'.
Antes mesmo de eu descobrir o que era feminismo, já era louca pelas letras de "Independent Woman" e "Bootylicious" que exaltam a independência financeira e a beleza natural da mulher. Mesmo que eu não ache que ela é um ícone máximo do feminismo, tenho que concordar que ela vem trazendo o tema para o mundo de uma forma que nenhum outro artista o fez. Provavelmente você não deve ter ouvido falar de Chimamanda Ngozi Adichie antes de ouvir parte de seu discurso sampleado em ***Flawless, bem, eu não tinha idéia de quem era essa mulher. Quando ouvi o pequeno pedaço de seu discurso, meu cérebro deu três voltas e não sosseguei enquanto não procurei quase tudo sobre essa mulher.
Li bastante sobre isso antes de vir escrever por aqui, principalmente depois da sua apresentação do VMA, o que mais temos por aí são publicações sobre o feminismo e o não feminismo da Beyoncé. Li críticas sem senso nenhum a críticas que concordo e já compartilhava da mesma opinião, mas me dizer que ela não representa o feminismo, soa ingênuo.
O feminismo é um movimento para a liberdade, pela liberdade de sermos quem somos, de sermos imperfeitas, e daí acabar com mais um estereotipo de "esse feminismo é certo e esse é errado" faz com que tudo o que reivindicamos vá direto para o ralo.
Lembra quando eu falei ali sobre Bootylicious? Ela faz parte do álbum Survivor do grupo Destiny's Child, mesmo album que têm a música "Nasty Girl" que é um hino machista cantado pela minha musa. Até aí, nessa época, eu também achava que as meninas que se vestiam com roupas curtas eram vadias, e minha opinião mudou (e muito!) sobre isso e outras questões. A mesma coisa acontece com as duas músicas Independent Woman pt 1 e pt 2, sendo "Bills, Bills, Bills" um dos maiores sucessos do grupo. Soa meio incoerente? Sim, mas atire a primeira pedra quem é a rainha da coerência.
Tem gente que diz que sua hiper sensualidade é um defeito, que ela usa o corpo para vender, para se sentir melhor e desejada pelos homens e mulheres. Bem, eu discordo. Eu vejo uma mulher que não usa a sua sensualidade, mas que a sente, a explora e a expõe. Qual o problema de me sentir gostosa e querer mostrar isso pra todo mundo? Se existe um problema, é o mesmo que eu ter a minha opinião e estar expondo-a aqui no blog. O problema que eu enxergo é essa coisa que querem que a gente acredite que não podemos usar nosso corpo para nos satisfazer, indo por esta linha de pensamento, 'meu corpo, minhas regras' cai mais rápido que castelo de areia.
Falando de seu mais recente álbum auto intitulado, Blow é literalmente uma explosão de como ela lida com sua sensualidade, como ela sabe explorá-la e não se sentindo reprimida por isso. Como falar de sua apresentação e então associá-la a objeto sexual? Ela celebra o corpo e a beleza que têm, rebolando e exaltando a sua bunda nas nossas caras desde 2001. Ela se mostra como um ser sexual e isso incomoda as pessoas, não é bem aquilo que esperam de uma mulher. Como Chimamanda diz "mulheres são seres sexuais e sendo donas de seu corpo e seus desejos, não são objetos, são sujeitos". Dizer que o feminismo de Beyoncé é menor do que o da Valesca Popozuda, por exemplo, é a tentativa de padronizar algo que repudia padrões.
Tanta afirmação não é a toa, ela não nasceu loira e rica, mas sim negra e de classe média. Isso não quer dizer que a vida dela hoje ainda seja difícil, mas não foi sempre assim. Além de enfrentar muito preconceito por ser mulher e querer ser artista (sim, isso ainda existe até hoje), ela é negra e sim, ainda existe muito preconceito racial, mesmo que preferimos não aceitar o problema. E não me venha argumentando que isso é narcisismo, por simplesmente não cola. Experimente dizer isso para uma garota negra que todos os dias reafirma sua beleza num mundo onde as mulheres consideradas mais bonitas e sexys são brancas, loiras e magérrimas.
Também vi por aí falando sobre o fato dela ter usado o sobrenome do marido na sua ultima turnê solo. Até onde eu li e sei, não sou proibida de casar, ser feliz e me orgulhar da pessoa que tenho ao meu lado, por que tenho que me repreender e não dar valor a pessoa que está ao meu lado, pelo simples fato de ser um homem? Isso me faz menos feminista, menos mulher? Eu acho que não.
A partir do momento que eu sou obrigada a recusar minhas próprias vontades e impor um orgulho besta contra os homens, novamente não estou sendo livre, estou seguindo (mais) um padrão imposto por alguém.
O trecho em que Jay Z aparece em "Drunk in love" é cheio de contradições feministas. Como então considerá-la um ícone sendo que em uma música sua, ela deixa seu marido dizer que "vai enfiar um bolo em sua cara para que você coma" (alusão a situação de agressão sofrida por Tina Turner pelo seu então marido e empresário e ter a obrigado a comer um bolo). Beyoncé e Jay Z não são só parceiros, eles são artistas, então cada um explora certos temas, e o fato de cada um respeitar o trabalho do outro é uma bela demonstração de respeito, embora as pessoas não saibam exatamente como respeito realmente funciona.
Pra mim, fica um pouco complicado escrever este post, pois ao me assumir fã dela, as pessoas podem achar que isso tudo é apenas uma fã defendendo seu ídolo, pode ser que eu seja mais agressiva em algumas defesas, mas não fecho os olhos para os 'gaps' que vejo em seu caminho, mas todos nós temos nossas imperfeições e é exatamente isso que nos faz perfeitos.
um beijo e um queijo! ;)
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