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Friday, September 5, 2014

a menina que não sabia usar saias.

Quando eu era criança, minha mãe sempre me fazia vestidos coloridos sempre fui cheia de bonecas e um dia descobri a paixão por Barbies. Meu cabelo sempre longo, na altura da cintura quando eu esquecia de reclamar de seu tamanho.

Fui ensinada, como a minha irmã, a fazer a cama, lavar a louça e ter de me portar como uma menina, portanto, a parte dos vestidos sempre foi meio complicada, mais um motivo para não poder ficar sozinha com meninos e também não podia aparecer sem roupa ou de biquini perto do meu próprio pai.
Sabe, eu nunca entendi isso tudo muito bem. Eu via que era cercada de regras a modo de me diferenciar dos meninos, por mais que eu gostasse de Barbies, também gostava dos carrinhos. Também nunca me ensinaram nada sobre sexo, ou sobre "virar mocinha", mas eu não culpo minha mãe, a vida dela não era sido nada fácil quando tinha a minha idade e provavelmente ela não deve ter tido tal conversa com minha avó.

Na escola eu era um alvo fácil de zoação, hoje chamado de bullying. Magrela, com cabelos encaracolados e óculos fundo de garrafa. E eu tinha um misto de sentimentos: queria ser a garota bonita e popular que todos gostavam e ao mesmo tempo queria ser eu. Por mais que eu me achasse bonita e atraente, não era o tipo de garota que atraia olhares, era desengonçada e não via diferença entre mim e o coleguinha masculino.
Como que por osmose, com a galera da escola, aprendi que as meninas não deviam ficar com vários meninos, mas ao mesmo tempo era pressionada por ser BV (boca virgem), coisa que eu negava veemente.

Eu gostava de jogar bola, atitude que não era tão bem vista aos olhos do meu pai. E nem aos olhos dos meninos da rua. Rua que, eu só pude sair, aos 15 anos quando mudamos de cidade. São Paulo sempre foi muito violenta para uma menina. Para a loucura da minha mãe e pai, preferia estar com os meninos por não me dar muito bem com meninas.

Com o tempo, os relacionamentos surgiram, mas nunca me senti como propriedade de alguém. Mesmo com parceiros machistas, sempre me mantive na mesma posição. Passei por milhares de brigas por causa da minha roupa, por querer sair sozinha, por dançar demais, por falar demais, por não me sentir diminuída e submissa por ser mulher.
Quando quis entrar para a faculdade, fui questionada por não escolher secretariado, já que ser secretária seria uma excelente profissão a seguir, você sabe, mulheres são ótimas nessa posição.

Fui julgada por outras mulheres com todos aqueles subjetivos que estamos cansadas de ver por ai, já disseram que sou fácil, que sou apenas para diversão, que não deveriam perder tempo comigo. Já vi, algumas vezes, outras mulheres disputarem, me ofenderem e brigarem comigo por causa de homens, pela sua atenção e pela posição de estar ao lado deles.
Não nego que também já tive meus momentos de xingar e até mesmo "difamar" outras meninas pelo mesmo motivo, não me envergonho, eu não sabia o que eu estava fazendo, assim como não culpo aquelas que ainda são cegas pela falsa guerra feminina pelo sexo masculino.

Então, há pouco tempo atrás, me descobri como feminista e toda essa história só me fez ver o quanto nosso meio é influenciado pelo patriarcado. Acredito que essa história seja semelhante para algumas meninas de classe média brasileira da minha geração. Porém dificilmente no mundo outras meninas têm ou tiveram a oportunidade que eu tive em diferentes situações. E ainda me perguntam porque existe e porque sou feminista. Na minha própria família já fui alvo de deboche por conta da minha posição, e infelizmente, o deboche com mais ênfase veio de mulheres.

Me dói ver todos os dias, como essa imposição de submissão afeta tantas mulheres e homens, mas ainda parece uma cortina invisível, como se ninguém quisesse enxergar realmente a causa de tantos problemas.
Por isso decidi usar esse espaço para palavrear a minha luta diária, compartilhada com tantas outras meninas e meninos, mulheres e homens, seres humanos que entendem a importância de serem livres e iguais.


Se você chegou até aqui, meu muito obrigada e espero você durante a minha jornada!







um beijo e um queijo!



PS: Esclareço que este blog não será utilizado para falar apenas de feminismo, mas de vários assuntos que façam parte do meu dia a dia e que, de alguma forma, sejam, para mim, importantes o suficiente para aparecerem por aqui, sempre com alguma pitada de humor! :)

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